Após oito meses de processo e longas discussões, o grupo chegou ao momento de confrontar-se com o texto Cleansed de Sarah Kane, desafiando sua poética na cena. Para composição do espetáculo Cleansed, terceira apresentação pública do grupo de trabalho envolvido neste projeto, procuramos enfatizar, eu e o grupo, as relações de pesquisa estabelecidas já na apresentação da performance ES3, seriam estas: o trabalho de mestiçagem entre cenografia e instalação, os aspectos sonoros como perspectivas espaciais, a composição de diversas linguagens artísticas na cena, a relação interativa com o público, e, por fim, a atuação como performance ligada a cada corpo e não como conceito homogêneo sugestionado pela obra dramatúrgica.
Não cabe neste post discorrer sobre estes aspectos que procuraremos abordar em outro momento, para não tornar mais amplo meus textos já conhecidos por sua incapacidade de sintetizar idéias. Colocarei apenas que buscávamos para a produção deste espetáculo um nível de interação diferente do nível usual encontrado na performance ES3, construindo-a através de formulações espaciais e procurando manter a ênfase da igual importância de cada campo da cena, iluminação, cenografia, etc., para a comunicação que ensejávamos estabelecer.
Dessa feita, através de práticas individuais e coletivas o grupo aprofundou-se nas estratégias que pretendia desenvolver em cena, ou como gosto de chamar, o grupo produziu nessa fase gatilhos para lançar em direção a prática as idéias e desejos que reunira até então. Este espetáculo envolveria em primeiro lugar uma ampliação do espaço de cena, o que exigiu uma maior capacidade de pré-produção e produção, assim como uma maior diversidade de materiais. Num segundo momento as brechas de caráter prático, como a perda de colegas no percurso do processo, precisariam ser supridas, mesmo que não de forma ideal, momento em que passo a compor o elenco de performers da encenação.
Contudo, a persistência e dedicação do grupo apresentaram-se como elementos fundamentais nesse momento, disponibilizando horários extras e realizando uma produção coletiva de escala nada razoável. Se a performance é uma arte de guerrilha, lembro-me agora da referência de Guevara a obra Guerra e Paz em seus diários, no qual um exército além de seu número tem como elemento de soma o desejo e ímpeto de cada soldado por aquilo que defende para identificar seu real tamanho.
Sem querer soar militarista, retiro dessa afirmação a presença e força do desejo de um grupo de sujeitos dedicados a um objeto comum, conferindo-lhe outra dimensão de sentido e presença. Em dezembro do ano de 2010 realizamos com recursos próprios e apoio de algumas entidades privadas, na forma de descontos nos materiais adquiridos para a encenação, as apresentações gestadas pelo grupo há cinco meses, sendo uma destas parte integrante do Circuito Cultural Baixo de Natal.
Para encerrar a descrição deste terceiro momento em que o grupo de trabalho do espetáculo Cleansed foi a público, acredito que caiba apenas acrescentar a satisfação no cumprimento de nosso esforço, que encontrou naquilo que realizava o prazer que pretendia, tendo cenicamente chegado onde desejava.
Fotografia: Rodrigo Bico
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